Para quem não acredita na necessidade da luta feminista, os fatos estão aí, todos os dias, nos lembrando.
Neste oito de março, escrevemos sob a náusea e indignação com a conduta do Deputado Estadual Artur do Val, eleito com mais de 500 mil votos em 2018. Em uma zona de guerra, enquanto testemunhava os maiores sofrimentos que podem atormentar o ser humano (morte, fome, separação de familiares, falta de estruturas básicas, medo, desesperança), o Deputado exaltou a “facilidade” das mulheres Ucranianas como presas sexuais, por serem pobres. Num primeiro momento, assusta-nos a monstruosidade da conduta, mas é necessário refletir um pouco. Será assim tão única e isolada a atitude do deputado? Peço ao leitor que pense em tantas outras vezes em que a situação de vulnerabilidade de mulheres (adultas ou não) foi pretexto para abusos e violências. A monstruosidade e a covardia são reais, mas não isoladas. Elas assombram a vida das mulheres por toda a vida.
Ainda hoje, no Brasil, em pleno 2022, uma mulher adulta precisa do consentimento do marido para implantar um simples dispositivo anticoncepcional, chamado DIU. O que isso diz sobre a autonomia da mulher sobre sua vida e seu corpo, sobre o valor que lhe é atribuído na sociedade?
Os dados sobre violência contra mulheres continuam gritando que precisamos de feminismo e de políticas públicas mais eficientes. Em 2018, morriam três mulheres por dia, vítimas de feminicídio; em 2021 este número passou para quatro, quatro mulheres que foram mortas por dia no Brasil, apenas por serem mulheres. Mas se as estatísticas parecem abstratas demais, basta pensar: você conhece alguma mulher que já foi ameaçada de morte pelo parceiro, ou que esteve em risco de vida num contexto de assédio sexual? Infelizmente, em oito de março de 2022, esses números precisam ser lembrados, pois ainda há quem imagine que a luta das mulheres é algum tipo de distração ou modismo.
O patriarcado é uma estrutura que já existia quando nascemos, mas que se fortalece com nossas condutas individuais, mesmo que involuntárias: toda vez que consideramos que o valor da mulher está em sua aparência; toda vez que admitimos piadas que objetificam mulheres; toda vez que consideramos que uma mulher em cargo de autoridade é “mandona”; toda vez que naturalizamos que as mulheres arquem sozinhas com o trabalho de cuidado (da casa, dos filhos, do marido, de parentes) e ainda dizemos que ela “não trabalha” ou que está “se aproveitando do marido”; todas as vezes em que atribuímos à mulher a responsabilidade de se proteger das violências que a ameaçam; todas as vezes que enxergamos a vida das mulheres como, de alguma forma, submetida à dos homens que a rodeiam, estamos contribuindo para uma existência rodeada de medos.
A luta feminista é pela plenitude de direitos, por uma sociedade mais solidária e humana, em que todos sejam sujeitos e ninguém seja objeto. É longa e árdua, mas estaremos nela enquanto for necessário.
Daniela Villas Boas Westfahl, Diretora de Imprensa e Comunicação do Sindiquinze
1340total visits,2visits today
MARIA APARECIDA MARTINS CARLETTO
🙌 Excelente! Sigamos juntas na luta! Com nossa força e nosso desejo de Paz, Solidariedade, Justiça Social e Direitos iguais!