Confira como foi o Encontro Nacional de Pretas e Pretos da Fenajufe

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A Fenajufe realizou no último fim de semana seu primeiro Encontro Nacional de Pretas e Pretos. Em formato híbrido, o evento contou em seus dois dias com 35 representantes de sindicatos e foi comandado pela coordenadora-geral da Federação e Diretora de Assessoria Jurídica do Sindiquinze, Sandra Cristina Dias, e pelos coordenadores Luiz Cláudio Correa e Jaílson Laje. Além da dirigente, representaram o sindicato no encontro a Diretora Rosa Maria Costa Defino, o servidor Paulo Sérgio dos Santos, e o assessor parlamentar Alexandre Marques.

Na abertura do evento, na manhã do sábado (26), os três dirigentes destacaram a importância do debate de questões raciais feito pela primeira vez no âmbito da Fenajufe. O primeiro painel teve tema tema “Negritude e poder: o que esperar dos poderes Legislativo e Executivo após as eleições 2022?”, com as palestrantes Patrícia Ramos, professora e membra do Movimento de Mulheres em Luta (MML), as vereadoras Bruna Rodrigues (PCdoB/RS) e Tainá de Paula (PT/RJ), ambas com forte atuação política-antirracista em seus estados, e Artur Miranda, da Coalizão Negra Por Direitos.

Bruna Rodrigues abriu o debate destacando a necessidade de uma reflexão sobre o papel do Judiciário nas questões raciais. “O Judiciário é o centro dos Poderes e precisa romper a estrutura racista do País e não manter essa mesma estrutura. Por isso, a gestão deve levar em consideração a desigualdade social, deve priorizar pautas como o combate à mortalidade da juventude negra, a fome e o extermínio desta mesma juventude”, destacou a vereadora gaúcha.

Patrícia Ramos lembrou Zumbi dos Palmares e Dandara para representa a força de negras e negros contra as opressões e exploração social, ressaltando a importãncia do “novembro negro”. “Este mês também marca a derrota de Bolsonaro nas urnas e do que existe de pior do sistema capitalista, porque o povo negro foi duramente atacado nestes quatro anos asscim como a classe trabalhadora como um todo”, afirmou a integrante do MML.

Arthur Miranda, que também é diretor-executivo do Laboratório de Periferias (PerifalLAB), ressaltou que, apesar da vitória de Lula ser de uma importância gigantesca no processo de reconstrução democrática, é preciso considerar que o Legislativo carece de representatividade negra. “Hhouve um aumento tímido de bancadas negras, que, ainda assim, não ultrapassam 9%, o que aumenta a dificuldade do debate da igualdade racial no parlamento”, observou ele.

Finalizando o primeiro painel, a vereadora carioca Tainá de Paula considera que o mais importante agora é saber quais as políticas do governo eleito para a população negra e que elas precisam estar no centro do debate político. “Como o futuro ministro ou ministra da Fazenda irá reparar as péssimas condiçoes da classe trabalhadora negra, como vai fazer para revogar as reformas trabalhistas e previdenciária e como fazer para inserir o negro nas politicas de inclusão?”, indagou Tainá.

Confira a íntegra dos debates da manhã de sábado no vídeo abaixo:

Na período da tarde, o evento trouxe discussões sobre “Negritude nas ruas”. O primeiro palestrante foi Walmir Júnior, do Movimento Negro Unificado do Rio de Janeiro (MNU/RJ), que enfatizou o descaso do Estado do RJ com a população negra, cujas políticas públicas não chegam nas periferias. “O que esperar de uma comunidade abandonada pelo Estado?”. Ele criticou a tentativa de aprovação de redução da maioridade penal e a “lei do tráfico privilegiado”, que trata jovens negros como traficantes e os brancos como “usuários, favorecendo o encarceramento em massa da juventude negra”.

Já a secretária de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rosana Fernandes, ressaltou que é no mercado de trabalho onde é possivel visualizar o racismo de forma mais estruturada no Brasil. “O mundo do trabalho ainda é um espaço de subordinação onde poucos mandam e muitos obedecem e quem obedece é a maioria negra. Ainda é muito difícil encontrar uma cara preta, seja de negras e ou de negros, nesses espaços de poder”, afirmou a dirigente sindical. Para ampliar e aprofundar o debate do racismo estrutural é preciso que toda sociedade compreenda os “privilégios da branquitude”. “Todos precisam entender entender que o racismo é determinante e vai construindo as diferenças na nossa sociedade. É o racismo que determina quem tem voz e quem são as pessoas que terão oportunidades”, completou ela.

Em sua fala, João Paulo, o JP, representante da Central das Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil (CTB), lembrou que até pouco tempo atrás o debate racial estava fora do meio sindical. “Ainda hoje encontramos dificuldade nas organizações pela falta de pessoas preparadas para abraçar a luta”. Sobre a política de cotas, JP considera necessária, mas não eficiente. “Cota é uma maneira de protestar e inserir, mostra que a gente tem que ter espaço. Mas se tivéssemos direitos iguais, nós, negros e negras, não precisaríamos de cotas”, destacou o sindicalista.

Finalizando as dicussões do dia, a jornalista Wellingta Macêdo, do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, enfatizou o sistema de justiça do Brasil “tem classe e tem cor”. “É uma justiça branca, em sua maioria racista, burguesa, que defende apenas os interesses da classe rica. Ela não defende os interesses dos pobres, pretos, periféricos, marginalizados e favelados. Essa desigualdade racial, com recorte de classe, também atravessa a negritude que precisa voltar às ruas. O racismo divide e é um impeditivo para nossa unidade”, disse ela.

Confira a íntegra dos debates da tarde de sábado no vídeo abaixo:

DOMINGO

O segundo dia do evento foi reservado “para olhar para dentro” da entidade com o painel “Enegrecendo a Fenajufe: desafios da auto-organização dos pretos e pretas no movimento dos(as) trabalhadores(as) do Judiciário – limitações, experiências e tarefas”, que teve como palestrantes os três organizadores do evento, os coordenadores Sandra Dias, Luiz Cláudio Correa e Jaílson Lage, e a servidora Patrícia Fernanda dos Santos, do coletivo de Negras e Negros da Justiça Federal/RJ.

Antes dos debates, a mesa anunciou a construção de uma moção de repúdio ao jornal “O Estado de São Paulo” por usar imagens de mãos negras para ilustrar matéria sobre o atentado à duas escolas ocorrido na sexta feira (25), em Vitória /ES. A prática criminosa resultou na morte de 4 pessoas e teve como autor um adolescente branco, filho de militar. Para os participantes, essa foi mais uma forma evidente de acentuar o racismo estrutural tão enraizado na sociedade e por isso foi consenso em repudiar essa e toda e qualquer manifestação racista.

Também foi apresentado o documentário produzido pelo Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário no estado do Rio Grande (Sindjus/RS), que mostra dificuldades, preconceito e racismo revivenciado pelos personagens, que atualmente, em sua maioria, são servidores do Judiciário.

Ao entrar no tema do painel, a coordenadora-geral Sandra relembrou momentos de sofrimento ao relatar situações de racismo vivenciados por ela. A dirigente considerou de extrema importância o debate racial na categoria e, principalmente, nas instâncias da Fenajufe, e que um longo caminho ainda precisa ser percorrido para mudar a estrutura racista do Judiciário e na sociedade como um todo. Ela também lembrou que ao ser eleita coordenadora-geral no último Congrejufe, afirmou que iria provocar o debate racial dentro da Federação. “Minha intenção era trazer esse protagonismo das negras e negras para dentro da Fenajufe e espero estar conseguindo trazer isso. Enegrecer a Fenajufe traz muitos desafios, além de mobilizar a categoria, porque é preciso reconhecer que a pauta identitária no meio sindical ainda é esvaziada e menosprezada, mas temos que continuar ocupando os espaços, o que é um direito nosso”, afirmou Sandra, que é a primeira coordenadora-geral de pele negra da Federação, que completa 30 anos de existência no próximo dia 08 de dezembro. “Por aí podemos perceber as dificuldades que são colocadas para nós, negras e negros, de ocuparmos estes espaços”.

Sobre a pouca representatividade da negritude na categoria, o coordenador Luiz Cláudio ressaltou uma questão anterior, que é a dificuldade que negros e negras enfrentam para estudar e passar em concurso público. “Temos que encontrar tempo e estudar dobrado para disputar uma vaga com o branco que só estuda para ser aprovado, enquanto nós, temos que trabalhar”, disse ele. Sobre o racismo estrutural nas instituições, ele destacou o descumprimento de resolução do CNJ que institui cotas raciais para ingresso nos órgãos do PJU, inclusive para contratação de terceirizados, que não são cumpridas. “Essas vagas são preenchidas por indicação de gente do alto escalão e quem ocupa são pessoas brancas. Mas lutar para garantir o cumprimento da resolução é um papel da Fenajufe. Essa oportunidade de Justiça social está sendo roubada dentro do serviço público, dentro do Judiciário e precisa acabar”, conclamou Luiz Cláudio.

“O longo caminho”, das palavras da coordenadora Sandra, já começou a ser percorrido, e o primeiro passo, segundo Luiz, foi a instituição de cotas de paridade de gênero e raça na direção da Federação, que só foi implantada no XXI Congrejufe realizado esse ano, em Alexânia-GO. O Encontro de Pretos e Pretas é a sequência da caminhada.

Em sua fala, Jaílson Lage parabenizou as mulheres presentes, que registraram o maior número de participantes no evento, e reforçou a relevância de tanto a Federação como os sindicatos filiados levarem o compromisso de promover o debate racial na base, para fortalecer o combate ao racismo e às desigualdades. Ele defendeu que a própria Fenajufe passe a aplicar a contratação de trabalhadores e trabalhadoras observando o perfil racial da sociedade brasileira.

Na fala de encerramento do encontro, a servidora Patrícia Fernanda, da Justiça Federal do Rio de Janeiro, ressaltou a importância da existência de um Coletivo Negro dentro das organizações. “Um lugar onde o racismo não nos distraia de fazer o que precisa ser feito. Não que a gente deixe de sofrer, mas para sofrermos juntos. O racismo estrutural promove solidão, que é uma das piores facetas da dor, porque multiplica o sofrimento”, observou a militante antirracista, que é mentora e criadora do Coletivo de Negras e Negros em seu local de trabalho. “É importantíssimo conhecermos as normativas já existentes no Judiciário, assim como leis e tratados internacionais, instrumentos para que nossa luta antirracista seja executada”.

As propostas aprovadas no encontro e que serão serão encaminhadas para análise da Diretoria Executiva da Fenajufe foram:

– Plenário aprovou Moção de reúdio sobre matéria do jornal “ O Estadão” que usa uma imagem de mão negras para ilustrar o atentado realizado por homens brancos no estado do estado do Espírito Santo;
– que a Fenajufe passe a aplicar a contratação de trabalhadores observando o perfil racial da sociedade brasileira;
– criar o Coletivo Nacional de Pretos e Pretas da Fenajufe;
– que no ano de 2023 o encontro Pretas e Pretos se realize na semana da Consciência Negra – dia 20 de novembro;
– oficinas culturais nos próximos encontros e;
– criação de um núcleo de Pretos e Pretas em cada sindicato;

Confira a íntegra do painel da manhã de domingo no vídeo abaixo:

Com informações da Fenajufe

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